Sexta-feira, 1 de Outubro de 2004

"...porque os desafinados também têm coração"

Hoje é o dia mundial da música. Após uns dias de pausa decidi, através de um pequeno e mal amanhado conto, prestar a minha homenagem a essa arte única, capaz de por os nossos corações aos saltos.


Era uma pequena banda duma casa do povo no interior do país. Normalmente os instrumentos eram cuidadosamente arrumados, depois dos ensaios, num pequeno quarto junto ao salão nobre. Um dia aconteceu, o ferrinho tinha sido mal arrumado e tinha caído no chão, um pequeno encontrão de uma pessoa num armário, a queda deste por cima do ferrinho e a consequente entortadela num dos lados do ferrinho. Resultado: passou o tocar desafinado. Para a orquestra já não servia mas encontraram-lhe uma finalidade. E assim, a meio dos ensaios, servindo-se um pequeno "lanche" aos músicos da banda, o brasileiro, encarregado pela junta de preparar os "comes e bebes", entrava pelo salão nobre dentro e fazendo soar o ferrinho cm pancadinhas gritava "boia".


Aconteceu que o ferrinho, que ficava pousado numa cadeira perto dos instrumentos de corda, apaixonou-se pela viola braguesa. Que querem, são coisas que acontecem. Mas a menina, embora não sendo de todo arisca, disse-lhe que nem pensar. Olha olha, logo com um instrumento desafinado. E enpinando o nariz virava-lhe as costas. E o ferrinho andava por ali meio entortado por dentro e por fora, é que mesmo a tocar só para chamar para o "lanche" aquele soar era tristonho.


Um dia algo de terrível aconteceu. Um curto-circuito numa tomada provocou um fogo no quarto de arrumo dos instrumentos. Acudiram a tempo mas alguns instrumentos de madeira ficaram muito danificados. A viola braguesa foi um deles. Com uma boa parte da caixa torcida pelo fogo o som já não era grande coisa. Dinheiro para consertar era um problema e assim ela foi afastada dos concertos da orquestra, apenas servia para a prática dos membros mais novos da banda.


Claro que todo o orgulho e desdém da viola braguesa tinham caído por terra. Agora também ela era desdenhado por outros instrumentos. E assim, aos poucos, foi aceitando os avanços do ferrinho. A última vez que espreitei para dentro do quarto vi o ferrinho enfiado no braço da viola com esta a pender a parte superior do braço, muito ternamente, para o ferrinho.

publicado por maratonista às 19:47
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3 comentários:
De Anónimo a 4 de Outubro de 2004 às 13:46
Que bonita história de amor entre um ferrinho e uma viola braguesa :-)
E o título bem a propósito (vou-te enviar uma versão dessa canção...)inconformada
(http://escrevoapenas.blogspot.com)
(mailto:inconformada@sapo.pt)
De Anónimo a 4 de Outubro de 2004 às 12:46
Depois de te ler, pensei: Tantos dias mundiais de tanta coisa e a gente não sabe de metade... Aragana
(http://www.aragana.blogs.sapo.pt)
(mailto:aragana@sapo.pt)
De Anónimo a 4 de Outubro de 2004 às 02:02
escreves muito muito bem !! com um encanto que só visto! Vou de ferias e passei para deixar um abraçomyryan
(http://myryanblogs.blogspot.com/.)
(mailto:myryan@sapo.pt)

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