Proximidade
Naquela praça, vazia de gente, o sol ardia nesse mês de Agosto. Duma ruela lateral apróximou-se uma mulher e sentou-se, junto à paragem das camionetas, sobre a mala que trazia. A solidão no rosto, a tristeza no olhar, dizia que aquela não era apenas uma viagem mais. Tive receio de ser inconveniente e não me aproximei, fiquei na sombra, observando. Quando a camioneta apareceu ela levantou a cabeça e olhou em volta, quase surprendida nos seus pensamentos, procurando com o olhar. Nada. Quando subia para a camioneta olhou uma vez mais, desta vez era um último olhar, quase em suplica. Mas das paredes de pedra não saiu nenhuma voz, nenhum humano gesto a impediu de entrar. E a camioneta seguio viagem.
Uns dez minutos depois, mais do que isso não foi de certeza, um homem aparece na praça em andamento rápido e olha em volta. Não vê ninguém e baixa os ombros, desalentado. Apróxima-se da paragem de olhos no chão, como se procura-se vestígios, restos, da passagem de alguém. Ali fica, largos minutos (e mais uma vez eu não me aproximei), antes de ir embora com o rosto fechado num ricto de dor e estupefacção.
E o silêncio volta à praça, mas não por muito tempo. Da sombra de uma portada lateral sai uma pessoa. É uma outra mulher. Nos seus lábios baila um sorriso, perverso, de satisfação. Segue no caminho que o homem tomou ao sair da praça, levando um caminhar ligeiro. E mais uma vez eu não me aproximei, não saí da sombra e ali fiquei.