Tá um tipo na sua de se queixar de tudo (o calor, o calor, o calor) quando se depara com esta reportagem na revista ÚNICA, suplemento do jornal Expresso, acerca do trabalho infantil. Já nem falo do caso português mas sim da reportagem de Ana Sofia Fonseca no Peru.
Para começar uma fotografia de uma criança a entrar numa fabriqueta qualquer e o aviso, em letras grandes na parede amarela:
AVISO
NO ROBAR PORQUE
SI TE VEO TE MATO
Depois aquelas frases de crianças trabalhadoras. Cito só duas:
«Imaginas o que é ter fome? É sonhar com um pedaço de arroz ou uma perna de frango e fingir que o estômago não doi para a mãe não ficar ainda mais triste.»
(Robinson Becerra, 12 anos)
«Se eu fosse uma princesa, assim como as dos contos, tinha uns sapatinhos de cristal, daqueles lindos! Ou de verniz...Ai, era tão bom! E vivia num palácio e tinha bonecas e não precisava de trabalhar. Gosto tanto de Barbies, o MANTHOC deu-me uma no Natal. Foi o presente mais lindo que tive, nunca tinha tido nenhum. Gostava tanto de ser princesa...Mas esta lama dava-ma cabo dos sapatos, tinha de viver num sítio com ruas a sério (sorriso). Já viste se eu fosse mesmo princesa? Ia para longe e nunca mais carregava tijolos. É muito duro o meu trabalho. Eu ia ser uma princesa boazinha, não me ia esquecer de Deus nem dos pobres. Na tua terra as casas têm água? Eu quero ir à Europa, o Robin sabe muitas coisas, ele diz que lá não há lama e que as crianças não trabalham. Sou uma sonhadora, não é? (Suspiro)»
(Luz Roxana Diaz, 12 anos)