Neste Domingo, na sua habitual crónica no jornal Público, João Bénard da Costa escreve sobre o mito de Dafné.
«Apolo foi sempre o deus das despedidas
Mas a história mais terrível foi a história com a ninfa Dafné, a filha do rio Peneu. Amor não casual mas provocado pela ira do cruel Cupido de cujos arcos e flechas Apolo imprudente se rira. Cupido atingiu-o então com a flecha de ouro e de ponta resplandecente que o feriu per ossa medullas. Por quem se apaixonou o deus? Pela virgem que lhe imitara a irmã (a casta Artémis) e vagueava por montes selvagens, recusando amor e himeneu
.Debalde lhe jura que não a persegue como inimigo, nem como o lobo persegue o cordeiro. Eu sou o rei de Delfos, de Clara, de Tenedo e de Patara, revelo o futuro, o passado e o presente e ensino a acordar ao som da cítara
Mas Dafné foge-lhe sempre, A ela, o medo lhe dá asas. A ele, a esperança o faz ser mais veloz. Quando finalmente, exausta e vencida, Dafné se sente cair, suplica à Mãe (a Terra) que lhe destrua o aspecto e lhe transforme a beleza que é causa de ruína e roga ao pai, rio de poderes divinos, que a transforme em muito outra coisa.
Foi então que um pesado torpor lhe invadiu os membros, que o peito se mudou em casca, os braços em ramos e os cabelos em folhas. Mas, mesmo assim, Apolo a amou: Já que não podes ser minha mulher, serás meu abrigo. E dela fez o loureiro, árvore para sempre inseparável do Deus da música e da poesia. Pelo menos segundo Ovídio, assim se passaram as coisas.»
É realmente, como escreve JBC, uma história terrível mas aquele frase final Já que não podes ser minha mulher, serás meu abrigo. salva tudo.