O grito. Milhões passam fome. Milhões gritam. Apenas alguns ouvem. A surdez é colectiva, é um vírus que se propaga nas sociedades ocidentais, modernas, tecnológicas. No entanto o grito existe. Vejo uma mulher de pele negra, esquelética, com um filho, só pele e ossos, morto nos braços. Avança direita à arma empunhada pelo soldado governamental comprada com o dinheiro emprestado por um país ocidental para ajuda alimentar. Não pensem que está cega, assim como cego não estava o governo que emprestou o dinheiro sabendo de antemão que esse dinheiro iria ajudar a sua indústria de armamento. Quando a bala atingir o seu destino que estará a passar pela cabeça dum ministro de um país ocidental enquanto come num restaurante de topo um prato confeccionado por um cozinheiro de alto nível acompanhado por uma garrafa de um vinho premiado? Não sei. Mas acho que sei o que estará a passar pela cabeça da africana Finalmente!
Ah. É verdade. Já me esquecia. O dinheiro foi emprestado. Terá que ser pago, com juros. E o FMI não perdoa. É o dinheiro deles. Estão no seu direito. Direito? Deixem-me rir.