É uma vergonha o que se está a passar com a ajuda dos países ocidentais, o que levou a que Kofi Annan tivesse de lembrar as promessas feitas de doação de milhões. É muito fácil prometer, só que muitas vezes os políticos, desligadas as câmaras de televisão, ficam atacados de amnésia . Isto já levou a que David Roodman, do Center for Global Development, em Washinton, disse-se "A palavra promessa nem sempre significa compromisso. Um país pode sentir-se afortunado se receber metade do que é prometido nestas conferências de doadores". E ainda há aquilo a que eufemisticamente chamam de "concepções do que é um donativo" , por vezes são empréstimos a taxas de juro baixo, ou nulo (metade dos 765 milhões prometidos pela Austrália). Os 690 milhões prometidos pela Alemanha serão entregues ao longo de cinco anos. Há ainda países que contabilizam como ajuda os custos da mobilização de navios militares ou aviões; e outras vezes é retirado dinheiro que já estava destinado ao país e oferecido como auxílio de emergência.
Tudo o que estou a escrever aqui vem no jornal Público de hoje, não invento.
E como é que um país rico como os EUA só disponibiliza 265.9 muilhões? Querem liderar o quê? a distribuição de sopa aos probrezinhos? E as imagens, na TV, de helicópteros americanos a atirar alimentos do alto para as pessoas mais parecendo, como já li na blogosfera, que estavam a atirar amendoins para os macaquinhos do jardim zoológico.
Esta gente não vê os olhos daquelas pessoas adultas que perderam tudo (e aqui tudo é mesmo tudo, familia, haveres, respeito, dignidade) que estão amontoados em campos onde, como escreve o enviado do Público Luciano Alvarez, "Vivem como prisioneiros guardados por soldados armados, que apenas protegem os que ao seu lado fingem não ver a miséria que os rodeia"?
E os olhos das crianças? Não os vêm? Apáticos, esquecidos dentro de si mesmos. Só quando encontram algum parente é que conseguem chorar, deitar cá para fora o horror por que passaram e que lhes povoa os sonhos.
De repente, assim tão de repente, Kafka começa a fazer sentido.
Ia a entrar no souto quando sentiu o cheiro de gente misturado com outro cheiro esquisito que lhe eriçou o pelo da nuca. Já tinha sentido aquele cheiro antes. Aqui à uns tempos atrás tinha visto gente com uns paus compridos que faziam barulho e logo a seguir tinha visto um coelho saltar na erva e ficar morto. Arrepiou caminho e desceu até ao matagal, de repente aquela refeição de penas estava a ficar demasiado perigosa. Virou à direita junto a uma sebe e seguio escondida pela erva alta até passar entrar num pinhal novo, ali passou a trotar mais rápidamente e à vontade. A meio do pinhal, depois de atravessar um ribeirinho, e junto a umas silvas, deparou com uma cena de caça. O rapozinho que ela tinha conhecido no outro dia acabava de apanhar um galito fugido. Por momentos ficaram a olhar-se, ambos alerta. Depois, quando ela já se tinha virado para continuar, o raposinho veio ter com ela, de galito na boca, dando-lhe marradinhas no lombo. Parando ela compreendeu que ele estava a querer partilhar a refeição com ela. Hum...afinal sempre iria ter uma refeição de penas. Lado a lado entraram na parte densa do arvoredo, onde nalgum recanto mais escondido iriam banquetear-se com o galito.
Ok. Ano novo, vida nova.
Resolução nº 1: desistir do que (ou de quem) não posso ter. Basta de desencontros.
Resolução nº 2: desistir de me armar em forte (raio de atitude masculina) e pensar que se aguenta com tudo. Como diz a Maria Rita (filhinha da adorada Elis Regina) ele arma-se em cara valente e depois vai ter que pagar.
Resolução nº 3: Escrever, finalmente, o conto que anda a estrangular-me.
Pronto. Apenas 3 resoluções, como nos desejos. Como dizia o Turista Acidental: na vida, como em tudo, há que levar pouca bagagem, apenas o essêncial.