Quarta-feira, 29 de Junho de 2005

Scherazade

Estou, numa tarde de calor, sentado junto a uma mesa de pedra na mata do Bom-Jesus. Por momentos algo me faz desviar a atenção do livro que tenho aberto nas mãos. Um esquilo, de cor castanho-escuro, passa a um palmo do meu pé esquerdo em direcção a uma árvore. Vejo-o seguir de árvore em árvore, buscando no chão alimento. E assim, por minutos, esqueço Scherezade. Mas ela continua em Bagdad. Intemporal. Criança ouvindo histórias no bazar, mulher distraindo a espada do Califa. Sonhando, ela própria, com Simbad e Ali Baba. Sonhando ser Zoneida enquanto Jasmine vela o seu sono. Sonhando com aventuras entre o Tigre e o Eufrates. Mas não sonhando que séculos e séculos depois a cupidez a cupidez humana haveria de destruir vestígios da sua civilização, da nossa civilização. O esquilo passou para além da vista, bebo um gole da garrafa de água e volto para o livro. Nélida Piñon é uma boa Scherezade.

publicado por maratonista às 19:59
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Terça-feira, 28 de Junho de 2005

Crónica

Bom, hoje é terça-feira e vamos lá fazer uma pequena crónica do fim-de-semana.

Quinta à noite, noite de S. João, deitar às quatro da matina e levantar às oito (raio deste relógio dentro da cabeça). Sexta à noite; como no dia seguinte havia corrida deixei de lado a cerveja e "amandei-me" à seven-up de litro e meio geladinha. Resultado: dores de garganta, ligeira febre e uma insónia que me fez dormir só umas duas ou três horas. Sábado: saída depois do almoço, cinco "malotinhas" dentro dum carro por aí abaixo até Peniche. Como o meu carro era o maior e tinha ar condicionado lá gramei eu as horitas de condução. A corrida é feita à noite, quinze quilómetros no meio de fogueiras para mil e oitocentos "pernetas". (Como satisfação pessoal o facto de dois atletas treinados por mim ficarem nos vinte primeiros embora estivessem com uma ligeira intoxicação alimentar. No final em vez e irem para a sardinha ficaram pelo copo de leite.). Entrega dos prémios atrasada e só abalámos para Braga era quase uma da manhã. E então este "old boy" em chegando à zona da Bairrada teve que dizer que já não estava em grandes condições para conduzir nos 140/160 com segurança. Ou ia a 80/100, e chegavamos a Braga lá para as seis da manhã, ou alguém tinha que me substituir. Sugestão aceite e pude assim ir para a cama às quatro e meia da manhã. Mas, e dormir? É que quando o corpo está maçado custa muito a adormecer. Duas a três horas de sono e vá lá! E Domingo, às dez da manhã, lá estava no estádio para fazer trinta minutos de corrida lenta e calma.
Penso que posso dizer que cansaço é algo que sei o que é.
p.s. Aqueles dois "meninos" que ficaram a leite após a corrida, quando estavam no cafeteria, resolveram começar a "cantar" duas raparigas que nos serviam. Tive que ser Imperial: "Os meninos tenham juizo que são comprometidos e com filhos, e além do mais as meninas ficam muito mais bem servidas só comigo do que com vocês os dois que mal podem com uma gata pelo rabo!"

publicado por maratonista às 19:57
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Quinta-feira, 23 de Junho de 2005

Segundo dos Poema da Infância de MANUEL DA FONSECA

Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
...Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.

Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do Senhor Admnistrador!
Em toda a vila
se falou logo num caso de política;
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
qua mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

publicado por maratonista às 19:51
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Quarta-feira, 22 de Junho de 2005

Está calor

É pá está tanto calor que os neurónios entraram em greve.
Ainda tento espicaça-los dizendo que têm responsabilidades, que quem lê o meu blog até me julga um gajo inteligente (embora a palavra intelejumento esteja mais bem aplicada) mas eles encolhem os ombros e dizem: está muito calor e além disso estamos de férias.
Chateado ameaço-os: se não se põem e trabalhar corto-vos a cerveja e passo as páginas de publicidade a roupa íntima feminina sem olhar.
Eles riem-se e dizem: é já a seguir, mas é que é mesmo já a seguir. Ó palerma essa última ameaça tem a ver com o departamento lá debaixo e não com a gente.
Gaita! Estou feito. Sem eles isto não funciona. É que eu até tinha várias pancadas para dar mas vai ter que esperar para outras altura. É que está calor.
publicado por maratonista às 19:55
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Segunda-feira, 20 de Junho de 2005

From Berlim With Love

É pá eu estou em férias e devia era estar a gozar o sol e o mar mas de repente abro o jornal e aparecem-me sandices, vigarices, horrores e outras historias que só o cruzamento de Kafka, Hitler, Bokassa e similares ajuda a perceber como é possível. Passo a explicar e aviso que estou com vontade de bater. Do suplemento do Expresso, Economia & Internacional um pequeno artigo acerca de prostituição refere o caso, passado na Alemanha no início do ano, e contado por Inês Fontinha, da associação «O Ninho», no seminário «O Tráfico de Mulheres e a Prostituição». Uma desempregada de 25 anos, com formação na área da tecnologia de informação, e tendo alguma experiência como empregada de mesa prontificou-se a trabalhar em bares e à noite. Quando vai ao primeiro empregador descobre que é um bordel em Berlim. Recusa o emprego e tenta até processar o centro de emprego a acaba por descobrir que a lei não só não lhe dá razão como está em risco de perder os benefícios sociais. Diz a lei que qualquer mulher com menos de 55 anos e desempregada há mais de um ano pode ser forçada a aceitar qualquer emprego disponível – mesmo na área do sexo -, sob pena de perder o subsídio. Agora eu pergunto: O estado Alemão não é membro da C.E.? E a C.E. deixa que um seu estado-membro favoreça e quase obrigue a exploração sexual de uma pessoa?



publicado por maratonista às 19:56
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Quinta-feira, 16 de Junho de 2005

Quer-se dizer

Quer-se dizer;

Giro, giro, era eu arranjar este verão uma namorada de nome Catarina e andar por aí a cantar "sim Catarina ó i ó ai, sim Catarina ó ai meu bem".

Chic, chic, era arranjar uma namorada de nome Patrícia, corretora da bolsa, e andar no carro com a cassete do Pérez Prado a tocar o tema Patricia.

publicado por maratonista às 14:52
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Terça-feira, 14 de Junho de 2005

para hoje

O programa radiofonico Ritornello, da Antena 2, está a passar durante esta semana toda músicas escolhidas por Eugénio de Andrade. Em 2000 pediram ao poeta que fizesse uma lista com músicas, penso que só dentro do estilo clássico, para passar durante a semana da sua morte. O poeta aceitou e temos então esse prazer de poder ouvir as suas preferências. Costumo apanhar a emissão entre as 18 e as 19 horas.

Inês Pedrosa, na sua Crónca Feminina na revista Única do Expresso tem este comentário à pergunta "Quando acaba um livro começa logo outro ou fica com aquele bloqueio do pós-parto?"
Valha-me Santo António da ONU, padroeiro dos refugiados e dos embriões - porque será o difícil parto uma metáfora tão fácil?
Gostei!

publicado por maratonista às 19:39
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Segunda-feira, 13 de Junho de 2005

Obituário


Morreu um dos meus mais conhecidos conterrâneos: Álvaro Cunhal. Embora nunca tivesse pertencido ao seu partido, nem fosse simpatizante da causa, tenho que confessar a minha admiração por ele. A sua verticalidade e honestidade moral fazem-no sobressair no mundo da política portuguesa pejada de indivíduos mais próximos, por comparação, dos invertebrados, alforrecas. E que grande escritor se perdeu, porra, ao ganhar a política. Apesar de tudo penso que seria interessante por cá fora o muito que Álvaro Cunhal deve ter escrito ao longo dos tempos e que ainda não está publicado.

E morreu Eugénio de Andrade, beirão como eu. Enfim, esta segunda-feira é devastadora. Foi colega de trabalho do meu pai, antes do 25 de Abril, na chamada Federação das Caixas de Previdência onde ambos eram inspectores, o meu pai em Coimbra e Eugénio no Porto. E como a maior parte dos fazedores de letras deste país, um teso.
Do texto As Mães, a primeira frase:
Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido.

publicado por maratonista às 20:41
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Quinta-feira, 9 de Junho de 2005

Apelo

Daqui um apelo, porque o humanismo é o último valor a esquecer mas parece que há quem já o tenha esquecido (ou que nunca o tenha tido). Apoiem o Pedro Malheiros na sua luta. Aqui: A Arte de Pensar.
publicado por maratonista às 19:43
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Segunda-feira, 6 de Junho de 2005

Férias

Entrei de férias. E olhem que eu já precisava!
A primeira semana é para tratar de assuntos que fui adiando (infelizmente o dia só tem 24 horas). Depois vou poder dar uns mergulhos no mar (avulsos), dar um desbaste na pilha de livros por ler e (principalmente!) descansar.
Por aqui vou passando no final do dia, deixando um posto quando isso for possível e comentando-vos não tanto quanto gostaria. Até ao começo de Julho deixo-vos um xicoração.
publicado por maratonista às 20:39
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