Sexta-feira, 30 de Setembro de 2005
Deixo-vos este poema de Manuel Rui no JL nº913 de 28 de Setembro:
O que eu não choro
são as lágrimas que deixei cair na água
meu amor. Meu amor. Só tinha as duas mãos uma no teu pulso
outra no trompete e tudo. Tudo e tudo meu amor e o trompete
se escaparam das minhas mãos como um solo de guitarra
vê. Só tinha duas mãos. Sonha os meus dedos
meu amor as cicratizes de África as minhas duas mãos
tão poucas no eco de uma bateria submersa com os pratos
a boiar na água dos soluços de uma orquestra roubada.
O que não choro são as lágrimas
de uma cidade abaixo do nível desencalhado
aqui. Por medalhas olímpicas nas minhas pernas
em memória de Hitler nem me sobram caixões nem bandeiras
importadas do Iraque. E agora silêncio. Silêncio na afinação do piano
assim. Silêncio para os blues na água em todos os acordes
de uma cidade de onde não saí por causa do crime de roubar
com o meu saxofone sons à pauta de um furacão. Tomem nota:
roubar sons a um furacão com o meu saxofone arroba ponto com.
O que eu não choro são as lágrimas. As minhas lágrimas
acima do nível da morte com os meus tambores
a beliscar o ódio abaixo do nível do amor
mesmo quando assalto ourivesarias de ouro escravo
que me foi garimpado e pintado de branco
é também saudade de antes do dilúvio
das velharias da história dos furacões aqui. Em New Orleans
em New Orleans. E por favor silêncio. Silêncio e oiçam bem
os sons e os tons das minhas lágrimas que eu não choro
e deixei debaixo da água do rio e do mar
com o meu sax bem erecto a iluminar o céu
e o luar por cima de uma carpete toda negra
mais o meu trompete a rir
e o meu sax
cansados de chorar.
Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005
Bom! Esta semana está complicada a vários níveis. Quando fiz este blogue escarrapachei o meu nome ali em baixo e disse a muita gente conhecida que tinha este blogue. Resultado: agora estava com vontade de amandar uns bitaites acerca de assunto público e não posso devido à obrigação de todo o funcionário público de guardar segredo acerca de determinadas informações. Deixa-me um bocado chateado porque anda aí muita coisa escrita e dita que revela alguma falsidade ou ignorância. Portanto resolvi fazer um novo blogue, sem o meu nome a descoberto, e se calhar noutro servidor. Depois aviso.
Terça-feira, 27 de Setembro de 2005
Como eu dizia no posto de ontem à trinta anos atrás estava numa fase Bruce Lee. Fui desencantar uma fotografia desse tempo. Um pouco ao estilo meio-místico, meio-guerreiro, enfim patetices dos vinte anos. Só é pena a foto não ter grande qualidade mas era uma pequena máquina de bolso.
Segunda-feira, 26 de Setembro de 2005
Postar hoje. Mas que raio é que eu vou escrever? Por vezes parece que se instala uma parede branca de fronte à central de ideias e um gajo fica para ali com o nariz encostado à parede sem ver nada. Por acaso, ainda à bocado, passou um passarinho chilrriante que era um princípio de ideia, mas assim como veio assim como foi, bateu as asas rápido e se calhar foi cantar para outra freguesia. Podia "amandar" uns filetes políticos mas nesse aspecto apenas tenho uma frase para dizer: OBRIGADO MANUEL ALEGRE! E por aqui fico a respeito deste assunto. Quanto ao resto...bom, perdi a cabeça e abri os cordões à bolsa. e comprei o conjunto de DVDs do Bruce Lee. Tenho que explicar que à trinta anos era um fã absoluto e praticava o Jet Kune Do (enfim, armava em carapau de corrida), a maneira como ele usava o humor em conjunto com as ténicas de arte marciais era absolutamente inovadora, o que hoje existe por aí são sósias mal amanhados. Portanto esta semana, e tirando qualquer filme de culto que passe na tv, à noite vão haver sessões diárias de Bruce Lee.
Quinta-feira, 22 de Setembro de 2005
Budapeste, capital da Hungria. Num pequeno café/restaurante/bar ela está a uma mesa sorvendo aos poucos uma chávena de chá. O músico residente, violinista, tocava uma célebre música daqueles lugares két gitár (duas guitarras), que ela já tinha ouvido antes. (Ele costumava passar no velho gira-discos que tinha no quarto, um LP de Charles Aznavour, gravado ao vivo, em que a canção que abria o disco era esta mesmo).
E, de repente, bateu-lhe a saudade à porta.
Saudade dos momentos passados naquele quarto em Domingos à tarde.
Saudades da partilha de emoções, cheiros e corpos.
Saudades do calor dos olhares.
A música dali era tão parecida com a do nosso fado que parte da sensação misturava-se com as lembranças. O vento assobiando lá fora lembrou-lhe a solidão, e o olhar que o espelho da parede ao lado lhe devolveu era uma assombração do passado.
Quarta-feira, 21 de Setembro de 2005
Absolutamente imprescindível, hoje, a coluna de Joaquim Fidalgo, Crer Para Ver, no jornal Público. Intitulada Parabéns, meninas!, fala sobre um facto que a nossa comunicação social deixou passar quase sem noticiar. No passado fim-de-semana a portuguesa Sílvia Saiote sagrou-se campeã mundial de ginástica desportiva na modalidade de minitrampolim e junto com Ana Simões, Nicole Pacheco e Ana Ferreira ganharam a medalha de ouro por equipas. Isto à frente de potencias desportivas mundiais como os EUA e Canadá. Deixo-vos o último parágrafo da coluna, para pensar:
"Não sei se, quando regressarem da Holanda, estas jovens campeãs terão as televisões à sua espera no aeroporto, nem sei se o Presidente da República ainda tem por lá alguma medalha de sobra para distinguir (como faz a vice-campeões europeus de futebol) atletas de tão alta categoria mundial. Mas sei que as meninas mereciam mais notícia, que isto que elas fizeram não faz toda a gente, nem todos os dias. E também mereciam um bom aceno daquelas bandeiras que o senhor Scolari nos levou a comprar..."
Terça-feira, 20 de Setembro de 2005
Pois é, isto das novas tecnologias é um mimo. Enquanto escrevo este texto no Wordpad, para depois o copiar para o editor do blog, tenho o Windows Media Player sintonizado na Rádio Antena 3, tenho o gravador de DVDs a fazer uma cópia e, minimizado mas pronto a saltar para a frente do ecran, um programa de contabilidade. Acho que o Leonardo d' Vinci se passaria ao ver isto tudo.
Segunda-feira, 19 de Setembro de 2005
Ouvi esta música e ficou-me na cabeça.
Youre Beautiful de James Blunt. Comprei o cd, de nome back to bedlam. Vale a pena.
Mas esta canção, estes versos, algo me liga a eles. Talvez pelo final.
Dedicado especialmente a uma loura rapariga de Braga eis os versos que tu me fizeste ouvir no teu computador.
My life is brilliant
My love is pure
I saw an angel
Of that Im sure
She smiled at me on the subway
She as with anther man
But I wont lose no sleep on that
Cause Ive a plan
Youre Beautiful. Youre Beautiful.
Youre Beautiful, its true
I saw your face in a crowded place
And I dont know what to do
Cause Ill never be with you
Yeah, she caught my eye
As we walked on by
She coold se from my face that I was
Fucking high
And I dont think that Ill see her again
But we shared a moment that will last till the end
Youre Beautiful. Youre Beautiful.
Youre Beautiful, its true
I saw your face in a crowded place
And I dont know what to do
Cause Ill never be with you
Youre Beautiful. Youre Beautiful.
Youre Beautiful, its true
There must be an angel with a smile on her face
When she thought up that I should be with you
But its time to face the truth
I will never be with you
de Eduardo Prado Coelho, na sua coluna O Fio do Horizonte no jornal Público de hoje, deixo-vos isto:
"O meu erro, aquele de que farei a minha verdade até à morte, é o de que em determinadas circunstâncias é possível atingir o outro e tocar-lhe naquilo que ele tem de mais íntimo, secreto e criança. Por vezes apetece-nos pegar em alguém pela garganta da angústia e absorver-lhe a própria respiração. Existirá uma palavra mágica? Só que o outro não está onde julgamos que ele está. ou está. E nós fomos condenados a não o ver?"
Quinta-feira, 15 de Setembro de 2005
Isto hoje foi catita. Ai foi, foi.
A central de compras do estado comprou, em finais de 1999, milhares de computadores com a marca Siemans para serem utilizados pelo Ministério da Saúde. Na verdade os computadores eram fabricados pela Fujitsu e utilizavam monitores Siemens mas a marca que aparecia na frontaria era Siemens. O facto é que aquilo deu sempre problemas, a minha experiência (comecei a trabalhar com computadores nos anos 80, com MS-DOS e sem disco rígido) dizia que aquilo eram problemas com a placa mãe (motherboard) mas a resposta do representante da marca era bastante evasiva. Acabaram por dizer que o barco que transportou os computadores esteve mais de um mês parado num porto e que isso deve ter causado problemas nos circuitos. Uma ova! Aquilo é um problema de concepção da placa mãe; algum engenheiro deu especificações para determinados componentes e afinal eles revelaram-se não compatíveis. Enfim.
A chatice é que ainda trabalhamos com alguns desses computadores em rede. Hoje um desse meninos decidiu dar bronca e decidi, em desespero de causa, fazer uma limpeza total. Formatei o disco, instalei o Windows 98 (aquilo não aguenta mais), instalei os controladores da rede interna e reiniciei o computador. A mesma barracada de antes. Assim não dá. Remeti o problema para a administração. Ou coisa nova ou trabalho atrasado.
Para acabar a tarde fui até à pista onde suei a fazer repetições: 30 minutos de aquecimento, mais 4 sprints para preparar o sistema ao ritmo de corrida e 4 repetições de 800 metros a cerrar os dentes. O sol já não é o de Julho ou Agosto mas aposto que se me pesasse antes e depois a diferença era superior a um quilo. Mas dá gozo. Quando o trabalho nos dá problemas fazer um treino duro limpa tudo.