O Jornal de Letras, nas bancas desde a semana passada, tem como tema, a pretexto no novo livro de António Lobo Antunes, Cartas de Guerra. Apresenta cartas que alguns nomes da nossa escrita escreveram às mulheres amadas durante o período em que estiveram na guerra colonial. Porque o testemunho é importante para a compreensão do que se passou, não só da guerra em si mas também do seu efeito nesses jovens arrancados à vida normal, e também pelo seu valor literário, aqui deixo alguns trechos das cartas.
Fernando Assis Pacheco:
Não digas nada a ninguém: ultimamente dei comigo a ter medo de um belo dia sair do acampamento e não regressar vivo. Só quem anda por cá pode avaliar de que maneira isto não é melodrama. Penso que há mais gente com esse medo. E também se tem medo de ter medo na altura de um ataque
Que é uma sensação terrível, pegajosa, inexplicável em termos humanos. Ao fim da comissão, se me perguntarem como foi, direi que não foi nada; esta angústia é demasiado grande para um estranho perceber.
E há um país inteiro complectamente cego e surdo no ano da graça de 1963.
O pensamento das guerras está outra vez a abrir buracos dentro de mim. Faço um esforço enorme para não me ir abaixo. Mas não posso deixar de considerar miserável a minha situação, inadaptável como me sinto, e com uma perspectiva de pelo menos 5 meses à minha frente, 5 meses que são 150 dias de desmoronamento interior. Em N.[ambuangongo] aguentei 40 dias
Manuel Beça Múrias:
Quando o barco se afastava do Cais da Rocha vi a meu lado o Roque, que chorava copiosamente e me dizia Olhei lá para baixo e só consegui ver o meu pai a acenar e a gritar: Gabriel! Gabriel!. Só os homens verdadeiramente homens é que choram.
O silêncio do vale, perturbado, ainda que por instantes por detonações, aumentara o seu peso. Deixei-me estar de pé; indiferente. Passou-me pelos olhos uma espécie de tontura. Quantos de nós desejávamos verdadeiramente a morte daquele homem? Sendo assim, porque tínhamos morto um pai indefeso, que nas mão trazia apenas uma vasilha bojuda de vidro nu? Não fora por engano. O equívoco era outro, mais terrível, mais geral e, naquele momento, julguei-me a mimprórpio e àqueles trinta rapazes, para ver se me teria de voltar para eles e, ali mesmo, esquecer a emboscada, sempre iminente, e tentar explicar-lhes, com a mesma paciência com que lhes ensinara o esquerdo direito e o armar e desarmar FN, que não passávamos todos de um bando de criminosos estúpidos.
Afonso Praça:
Ora bem: e a que propósito vem tudo isto, dirás tu? Não é a guerra que derrota o amor mas sim este ambiente fútil em que vivemos que, na distância, rouba a vontade e a inspiração. É por tudo isto que eu continuo a escrever e escrever sempre como até aqui, mesmo que não haja notícias, mesmo que a inspiração seque. Dizia-me a minha mãe quando eu estava em Lisboa e andava muito tempo sem escrever: Tu escreve-me filho. Se não tiveres notícias, pelo menos, a dizer se estás de saúde ou doente, compreendia-a bem. Beijos do teu Afonso.
(imagem tirada de www.pbase.com)
Era uma vez uma menina à janela a observar borboletas coloridas que dançavam no ar. Não pensava em nada, apenas observava maravilhada o bailado das borboletas com a boneca de pano encostada ao ombro como uma amiga a partilhar aquele momento maravilha, maravilhamento.
Era uma vez um menino a olhar os carros de bois, que vinham da vindima, a atravessar a rua da aldeia e que corria atrás deles para agarrar um pequeno cacho e saborear a doçura das uvas e que a seguir partia a correr com o cão rim-tim-tim até ao alto dos montes, junto aos moinhos de vento, para, sentado numa pedra e com os braços a abraçar as pernas encolhidas, observar a aldeia lá em baixo.
Era uma vez uma menina e um menino, de mãos dadas, a passear numa floresta encantada, maravilhados por existirem árvores de cores tão fortes e elfos a cantar e gnomos a brincar e pássaros a chilrear e corsas a pular.
Era uma vez um cachorrinho pequeno, uma pequena bola de pelo, a brincar, num quintal, com um menino, a rebolarem na erva doidos de alegria por se conhecerem e serem dados um ao outro, numa tarde quente de verão.
Era uma vez uma rapariga e um rapaz a provarem a doçura do primeiro beijo, escondidos atrás da porta de entrada de um prédio com vergonha por serem de cores diferentes, mas muito excitados por descobrirem no olhar um do outro, toda a ternura do mundo.
Era uma vez...
O grito. Milhões passam fome. Milhões gritam. Apenas alguns ouvem. A surdez é colectiva, é um vírus que se propaga nas sociedades ocidentais, modernas, tecnológicas. No entanto o grito existe. Vejo uma mulher de pele negra, esquelética, com um filho, só pele e ossos, morto nos braços. Avança direita à arma empunhada pelo soldado governamental comprada com o dinheiro emprestado por um país ocidental para ajuda alimentar. Não pensem que está cega, assim como cego não estava o governo que emprestou o dinheiro sabendo de antemão que esse dinheiro iria ajudar a sua indústria de armamento. Quando a bala atingir o seu destino que estará a passar pela cabeça dum ministro de um país ocidental enquanto come num restaurante de topo um prato confeccionado por um cozinheiro de alto nível acompanhado por uma garrafa de um vinho premiado? Não sei. Mas acho que sei o que estará a passar pela cabeça da africana Finalmente!
Ah. É verdade. Já me esquecia. O dinheiro foi emprestado. Terá que ser pago, com juros. E o FMI não perdoa. É o dinheiro deles. Estão no seu direito. Direito? Deixem-me rir.
"A propósito vou-te falar de amor em bundo:
DJAKUZANGA MANÈNE
(gosto muito de ti)
UATCHIKA MUNAKAZI
(mulher bonita)
DJIGUZANGA KOKAMA?
(queres vir para a cama comigo?)"
Não havia ideias na caixinha dos pirolitos. Puxei, puxei e não saía nada. Que raios! Não é maneira de se começar a semana. Ó musa da escrita, isto não se faz a este teu (e)terno amante, deixares-me para aqui sem nada para dizer. Bom parece que funcionou. Era uma vez uma mulher bonita (e gosto muito da maneira como soam estas palavras - mulher bonita, quase como se saboreasse-mos as palavras, a ideia das palavras) que atravessava a praça, objecto dos olhares masculinos. No seu rosto não havia expressão, se tinha conhecimento da admiração que provocava não o demonstrava. Avançava firme e decidida pela praça no seu fato, saia e casaco, com a bolsa de mão a baloiçar no braço direito. Quase no final do trajecto repara que sai de dentro de um café um trio de raparigas dos seus 12/13 anos, abraçadas, a falarem alto e a rir numa cumplicidade descarada como só as adolescentes daquela idade têm. Ela pára para as deixar passar, tão imersas no seu mundo estão que não notam nada à sua volta. O seu olhar segue-as e no seu rosto nasce um sorriso com alguma nostalgia à mistura. A ternura da lembrança envolveu o seu coração, suavizou o seu sentir e perfumou o resto do seu dia.
My japanese name is 藤原 Fujiwara (wisteria fields) 拓海 Takumi (open sea).
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Ao longo do dia foram aparecendo mais reações à já conhecida como a queixa das três estrangeiras. George W. Bush primeiro ficou muito admirado e perguntou como é que lhe chamavam em Portugal se não havia W, evidentemente ninguém lhe disse que e Portugal lhe chamavam da mesma maneira que nos EUA, ou seja de fdp. Ainda assim teceu a sua opinião bom pode ser que assim comecem a falar uma língua que se perceba. (Comentário de um assessor: ..da-se, ele nem inglês entende correctamente.)
Fernando Pessoa, convocado numa sessão de espiritismo, disse aos soluços dêm-me um copo de três, dêm-me um copo de três, dêm-me um copo de três. Alexandre ONeill também mandou uma mensagem do além Três letras estrangeiras a querer entrar? Não sei o que é que isso me faz lembrar! Zéze Camarinha, sem entender do que se estava a falar, disse alto e bom som depois de dar um arroto três estrangeiras? Deixem-nas entrar que eu encarrego-me delas. Também o Chefe do Estado Maior General das Fprças Armadas disse de sua justiça As forças armadas estão plenamente preparadas para ocorrer a qualquer tipo de invasãodentro das incumbências que lhe são dadas pela Constituição da República, se for preciso daremos a vida pela pátria.
Em conferência de imprensa as as três letras, K, W e Y, revelaram que tudo não passou de uma manobra publicitária a fim de promover a União Internacional das Letras Obviamente jamais afrontariamos as nossas colegas. Aliás vamos comemorar a primeira sessão da União todas juntas num jantar de natal. A entrada será, obviamente, uma sopa de letras.
Foi notíciado que vai haver uma queixa contra o Estado Português na União Europeia. As letras K, W e Y vão queixar-se de descriminação letrista pelo facto de não fazerem parte do alfabeto português não obstante serem utilizadas correntemente na escrita em português. Na queixa a apresentar são citados como exemplos de utilização as matrículas de automóvel e as portas de casas de banho de sítios públicos. Numa primeira reacção à notícia o ministro dos negócios estrangeiros português declarou que era um caso para se estudar. Em contrapartida o ministro da cultura, à saída de um encontro bilateral, pôs os pontos nos is: era o que faltava, virem essas ranhosas letras estrangeiras conspurcar o nosso idioma pátrio. Entretanto, em comunicado oficial, o Bloco de Esquerda declarou que este era um tipo de descriminação particularmente odiosa e típicamente xenófoba. O representante da Associação Nacional de Letras quando interrogado encolheu o sombros e disse que se elas se quiserem meter nesta barafunda o problema era delas, não sabem é no que se estão a meter disse.