Sabem, na penúltima página do JL (Jornal de Letras, Artes e Ideias) existe uma espécie de diário cultural, intitulado Sol & Sombra, escrito por Jorge Listopad. Mas é quando ele (para utilizar palavras suas) não é culturalmente concreto, mas talvez não seja abstracto, que eu gosto mais. Leiam-me estes pedacinhos de prosa:
Oitavo capítulo - Melancolia. Um homem jovem, só, sentado no jardim. Está fresco, mas ele não tem frio. No pequeno pavilhão, onde em tempos serviam chá, as galinhas andam a passinhos de galinha.
Está sentado durante muito tempo. Chega a irmã e pergunta: «Passa-se alguma coisa? O que tens? Ontem encontrei no sotão a tua boina, aquela à francesa.»
- Sim - diz ele.
- Queres que te prepare uma limonada? Ou algo quente ? Cacau?
Mas ele deseja que lhe traga a enciclopédia da melancolia. Ou o fim do mundo.
Décimo capítulo - O que é de ouro. O ouro é tépido. Não quebra. Os filões mais ricos encontram-se em Witwatersrand (África do Sul) e também nos Urais. O mais valioso na tua nuca.
Décimo primeiro capítulo - O profeta. Prenderam um profeta surdo. Não fazem ideia que todos os profetas são surdos como uma porta.