Quinta-feira, 9 de Fevereiro de 2006

Alda Lara II


TESTAMENTO

À prostituta mais nova,
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo,
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada...
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu Amor...

Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás, por essa noite fora...
com passos feitos de lua, oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua...

Lisboa, 1950


publicado por maratonista às 10:49
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1 comentário:
De Anónimo a 10 de Fevereiro de 2006 às 14:20
Tão triste, no entanto bonito. Bom fim-de-semana.Ofeliazinha
(http://www.ofeliazinha.weblog.com.pt)
(mailto:ofeliazinha@sapo.pt)

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