É verão. O sol no alto trata por tu qualquer passeante duma qualquer praia neste país ocidental. Na tua pele o sabor salgado do mar onde te banhaste sabe-me bem (a tua pele sabe-me sempre bem quando a beijo). Deixas-te estar, deitada sobre a toalha, com o sol a queimar. Perto crianças a brincar numa algazarra que não é de todo desagradável e o fundo sonoro das ondas a beijar a areia da praia tornam este momento ainda mais aprazível. Adormeço, deitado a teu lado, com um braço sobre os teus olhos. Não quero essas duas janelas da alma em perigo pelo sol lhes bater. Podiam nunca mais me dar aqueles olhares que me incendeiam a imaginação. E eu gosto de que me pegues fogo, gosto de arder em altas labaredas que aquecem o teu desejo. Ouço, algures à volta, uma criança de colo a chorar logo acalmada pela mãe que em voz suave e em barulhinhos ternos desperta a sua atenção. De novo acordado, aquele bebé desperta em mim coisas esquecidas, coisas novas. Quem sabe poderei ainda ver-te assim, com um filho meu nos braços a embalar, a dizeres-lhe baixinho que o amas muito, com aquela voz curadora e terna que só as mães têm. E adormeço de novo, agora com a tua mão junto aos meus lábios. O tempo corre, deixá-lo correr, não temos pressa aqui onde estamos, na praia, sob o sol, os dois corpos deitados lado a lado sobre a toalha.