Segunda-feira, 30 de Agosto de 2004
A boneca de pano jazia caída atrás do divã, já ali estava à muitos anos. Antes fora motivo de alegrias e brincadeiras de várias meninas, de uma ou duas fora motivo de sonhos. Mas agora era apenas um objecto de pano que uma adolescente tinha deixado cair atrás de um móvel e não se tinha lembrado mais. Passaram-se os meses, as estações. Passaram-se os anos, e a boneca nunca mais foi encontrada ou buscada por ninguém. A casa, que tinha sido uma vulgar casa de habitação familiar, tornou-se, depois de alguns anos vaga, numa casa de apoio social a crianças desfavorecidas e vítimas de maus tratos. Uma criança, oito anos apenas e com a vida já marcada no próprio corpo, de seu nome Aninhas, tinha chegado à pouco. Não falava com ninguém e, de início, notava-se que tinha as noites mal passadas, com pesadelos. Mas aos poucos foi perdendo aquele ar assustadiço, sempre com medo de apanhar mais,e notava-se que já passava as noites a dormir normalmente. Com sonhos e não pesadelos que as crianças nunca deveriam ter. E no entanto os responsáveis daquela casa não percebiam o que tinha mudado na vida aquela criança, não havia nada que eles tivessem notado. Até ao dia em que a criança foi transferida para outra casa e pedio para se despedir da sua amiga. Foi até ao divã onde dormia e debaixo do colchão tirou uma boneca de pano, já muito velha e a abraçou com força, muita força chorando baixinho. A boneca tinha encontrado, finalmente, uma nova amiga.
De Anónimo a 31 de Agosto de 2004 às 14:46
Nao conhecia o tue blog mas gostei bastante dele. Gosto da maneira como escreves e este texto esta lindo.Vou voltar mais vezes,bjs***Monica
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