Para além do livro de Walt Whitman (ainda vos hei-de trazer aqui outro poema dele) ando a ler também um livro que comprei na quarta-feira passada, Crónicas – volume I de Bob Dylan. Para além de gostar imenso da sua música considero que é dos maiores poetas norte-americanos da segunda metade do séc. XX (outro poeta-músico de que gosto muito é Tom Waits). Comprei o livro para ver como é que ele se saía na prosa e estou a gostar muito da maneira como escreve. Em tom ao mesmo tempo coloquial e intimista estas crónicas quase se podiam considerar um diário, deixo aqui um pequeno excerto:
“Tinha escrito e gravado muitas canções mas não andava a tocar a maior parte delas. Acho que me limitei a umas vinte, mais coisa menos coisa. As restantes eram demasiado enigmáticas, conduzidas de um modo bastante obscuro, e eu já não era capaz de fazer coisa alguma radicalmente criativa com elas. Era como carregar um pesado embrulho de carne a apodrecer. Não conseguia entender de onde elas vinham. O brilho desaparecera e o fósforo ardera até ao fim. Eu andava ao sabor do vento. Por mais que me esforçasse, os motores não arrancavam.”